terça-feira, 9 de setembro de 2014

Eclipse



Pálida e majestosa
ela orbita sem intenção
com toda a sua beleza
dentro e fora de meu coração

Egocêntrico que sou
aprendi a sair de mim
e fui ao teu encontro
almejando algo sem fim

Pelo espaço a luz viajou
e em ti não só refletiu
como também voltou
avermelhou-se com o que sentiu

Para isso existem muitos nomes,
chamam de eclipse solar
será que é porque, em ti,
encontrei só lar?

sábado, 6 de setembro de 2014

Vivamos no infinitivo

Verbo é ação
mas homem se esqueceu
de conjugar o coração

O provável da mente

Certezas não existem
apenas o provavelmente;
mude sua mente, não seja demente.

Donos de gaiolas

Por que prendemos
pássaros que gostamos?
Ora, não seria melhor
soltá-los
em vez, da vida,
privá-los?
Qual a necessidade
que o homem tem
de dizer
"isto é meu
aquilo é meu"
e tomar para si
coisas que nunca lhe pertenceu?
Ora, amor platônico
pois, se abrires o cativeiro
o animal, de ti, fugirá
mas por quê?
Por quê?
Morávamos na natureza
tínhamos contato com ela
um compromisso
éramos casados com ela
no entanto
algo chamado de
coletividade
ou sociedade
ou até mesmo urbanidade
transformou a nossa esposa em "amante"
amante mal amada
tirou a natureza de suas núpcias
e a jogou para escanteio
Agora somos presos
em nossas próprias gaiolas
antes, vivíamos com outras criaturas
era comum, era natural
hoje, para que possamos
conviver com elas
precisamos aprisioná-las
da mesma forma
que estamos
aprisionados
na gaiola que nós mesmos
construímos
nos acorrentamos
e nos trancamos.

Exclusão natural

E esse nosso
instinto
que nos extingue
Guerra, violência
é nisso que mais buscamos
ciência
Cada vez nos tornamos mais
extintos
pois homens não existem mais
mas monstros, estes sim
estão ganhando
na seleção desnatural
entre a guerra e a ganância
os maus ficam
e os bons partem
extinguindo a alma humana
dando lugar
aos espécimes mais bem
adaptados
à maldade
à ganância
à ignorância
Irônico é que
essa seleção
não natural
acabará selecionando,
no meio humano,
não o que dará
continuidade à espécie
mas sim o espécime
que dará
finalidade
ou o fim
para a nossa tão
inteligente
e negligente
espécie.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Minha ambição

Riqueza, poder, ostentação
de tantas coisas, apenas almejo
o bem estar do coração

Frenesi do ectoplasma

Minh'alma se excita
quando esta se encontra
em meio ao caos, calma

O centro do universo (?)

"Nossa, mas que lugar fedido!
Meu 3G não pega sinal
não consigo usar a internet
como vou avisar que estou aqui?
Não tem muita gente
o que vou fazer
olhando para aquela serra lá
tá longe, não tem nada de mais
ela toca alguma música?
Tem algum vídeo engraçado?
Como, com ela, irei me entreter?
Alou? Você está me ouvindo?"

Então, meus olhos abri
e, para aquela pessoa irritante,
respondi:
"Meu, cale a boca
a natureza não foi
criada
evoluída
desenvolvida
pra te entreter"

"Por que, então
por que me fez vir
para este lugar tedioso
contigo?"

"Porque
a natureza não foi
criada
evoluída
desenvolvida
para te entreter"

"Então por quê?"

"Já parou pra pensar
que você não é
o centro do universo,
do mundo
ou até mesmo de minha atenção?
Acorde, ouça teu coração
e pare de se iludir
não possuímos a natureza
mas sim, a nós esta beleza possui
ela não foi feita para se entreter, mas para sentir"

E foi assim
que o homem de hoje
de ontem
e de sempre
entrou em ação
e evitou, da natureza, a destruição
estou mentindo?
É... pena que é apenas ficção
o homem segue a natureza
extinguindo...

De ver gente

Meu Deus, que divergente!
Diz que ama coisas espirituais
mas se preocupa mais em ser atraente!

Fecho meus olhos

Para ver o que é
precisa-se ignorar o aparente
para fazer, de nossa alma, um ser contente

As pontas se atraem

O início chama o fim
a curiosidade, a explicação
e o amor, a alma afim

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A árvore da vida



          Era noite quando eu dirigia meu carro por aquela avenida. Não me lembrava aonde estava indo, apenas deixava minha intuição me seguir. "Será que entro agora? Não, deverei entrar na próxima" indagava eu a meu coração, recebendo logo uma resposta deste. Aquela avenida por onde rodava era um pouco sinistra e mal iluminada, possuía alguns pontos de iluminação e um trecho escuro entre um poste e outro. O asfalto possuía fracas marcações, enquanto o que estava fora da avenida era totalmente escuro.
          "Vire na próxima estrada" disse meu coração, e eu obedeci. Virei em uma pequena estrada tenebrosa que parecia não ter fim. Curva lá, curva cá, até que olhei para meu lado e vejo que um enorme lobo guará acompanhava, correndo, meu carro. Meu coração não disse nada, então continuei seguindo o caminho, até que aquele animal majestoso sumiu em meio ao mato (e trevas). "Que lindo aquele animal, apreciarei a memória de sua companhia por um bom tempo!" exclamou meu coração, enquanto eu focava na estrada.
Depois de muitas subidas, descidas e curvas acentuadas, meu coração me disse que estávamos perto daquele lugar e, logo depois dele me falar isso, vejo um enorme galpão dentro de uma grande área cercada. Embora a iluminação externa do local era fraca, ela, em meio às trevas, em muito me auxiliou.
          O lugar parecia um pouco tenebroso, mas era meu destino. Não sei o que iria encontrar lá e nem o porquê de estar indo para aquele local, na verdade estava mais esperançoso de encontrar as respostas que procurava lá. Quando me aproximei do portão de acesso, eu nem parei o carro e ele já se abriu automaticamente — será que era um portão automático, ou alguém já me esperava lá? Enfim, segui o caminho de terra dentro daquele cercado e fui dirigindo até encontrar um lugar para estacionar.
"Preste atenção em teus pés e no caminho. Assim, estaremos bem" disse meu coração a mim novamente. Quando desci do carro, logo observei o galpão, que agora mais parecia um estádio de futebol. É, a fraca iluminação me enganou acerca de alguns aspectos daquele lugar minutos atrás.           Atentando ao caminho, o qual era bem acidentado e cheio de pedras, fui me aproximando perto do que parecia ser a entrada daquela colossal construção — um enorme portão cinza, que aparentava ser de ferro. Interessante que, conforme me aproximava daquele lugar, maior e mais imponente ele parecia ficar. Como a iluminação era fraca, não conseguia perceber os vários detalhes que aquele lugar parecia possuir, mas percebia que existia alguns galhos de alguma árvore que pareciam atravessar — e até mesmo contornar — as paredes daquela construção. Enquanto percorria o caminho, meu coração, em vez de ficar impaciente, já que o caminho parecia apenas aumentar, ele contemplava cada detalhe que meus falhos olhos percebiam em meio à penumbra. Ele achava tudo magnífico e temeroso, apreciava até os detalhes das pedras que se encontravam no caminho, já que algumas pareciam ter alguma preciosidade, embora fossem bem pontiagudas.
          Logo quando cheguei, os portões se abriram para mim e, quando me dei conta, já estava dentro daquele lugar — agora me encontrava dentro de um minúsculo e enigmático ginásio.
          O lugar, que possuía uma iluminação um pouco mais decente — mesmo existindo alguns pontos com nenhuma iluminação — estava com algumas pessoas. Enquanto observava, juntamente com o meu coração, aquele local enigmático, quando um homem que aparentava ter uns 48 anos, dotado de barba e um cabelo curto e grisalho, perguntou-me sobre minha pessoa. O pouco que falei — ora, havia apenas apresentado meu nome e de onde eu era — fez com que esse homem ficasse maravilhado. Ele era um professor universitário, talvez tenha me confundindo com algum aluno dele. Enfim, acabei deixando ele de lado quando percebi que havia um grupo de pessoas conhecidas na parte superior do outro lado daquele ginásio. Eles estavam sentados em volta de uma mesa, ao todo eram três homens e uma mulher, e estavam todos me aguardando. O local que eles se encontravam parecia com um camarote, que se encontrava bem acima e atrás de um dos gols. Caminhando, logo fui percebendo que pessoas surgiam e sumiam simultaneamente daquele lugar, então me dei conta que logo estava do lado daquele grupo que me aguardava. Bom, todos me receberam bem, embora eu apenas lembrasse o nome daquela moça, que era Daia. No momento que eu cumprimentei ela, percebi logo alguma exigência em seu olhar e, embora tenha cumprimentado a todos, apenas ela me tratava como um igual, já que os outros me viam como se fosse alguém importante, ou algum tipo de celebridade. A comunicação com aquelas pessoas não era verbal, pois bastava um olhar para que a outra pessoa compreendesse a mensagem que gostaria de passar, e isso parecia ser mais forte com a Daia.
          Dei uma espiada em volta e percebi que existiam duas portas. Julguei que eram banheiros, já que existia uma fila enorme para entrar em cada um deles, então resolvi entrar na porta da esquerda. Quando fui me aproximando da fila, todos me olharam e me colocaram de frente para a porta, como se a fila não fosse necessária. Antes que pudesse entrar nela, meu coração logo me disse "Não faça isso! Olhe para trás, e me deixa no comando por alguns minutos". Quando me viro, Daia me olhava com um leve — e belo — sorriso em seu rosto. Seu cabelo possuía um tom avermelhado, sendo que tal cor era semelhante às flores que brotavam nos galhos que contornavam algumas partes da parede (e que eu só havia percebido agora). Foi aí então que eu parei de pensar e apenas agi — caminhei em direção dela e, quando a alcancei, me inclinei (pois ela estava sentada), segurei delicadamente eu seu rosto e a beijei. Neste momento, caro leitor, não sei ao certo descrever — viajei por entre os cosmos e dimensões paralelas, todos meus sentidos foram dopados e elevados, minha mente começara a pensar em tudo e em nada... até me encontrar de volta em meu corpo, momentos depois. Mal havia terminado o carinho quando meu coração me fez perceber um corredor à minha direita. Olhei para ela, a fim de dizer que deveria ir por aquele corredor e, antes que pudesse abrir a boca para falar, seu rosto e seu semblante me dizia "vá", então fui.
          Esse corredor, logo em seu começo, possuía uma curva à direita, então entrei e o segui. No lugar onde eu caminhava agora era mais iluminado, agora podia ver o que iluminava, que eram algumas tochas posicionadas pela parede. Quando olhei para cima, via que o teto daquele corredor eram vários ramos ramos daquela mesma árvore que possuía todo aquele "estádio". As paredes daquele corredor eram amarelas, possuindo uma textura extremamente lisa. Depois de muito andar, me encontrei em uma pequena sala quadrada, onde haviam dois caminhos: um para uma sala bem menor e pouco iluminada, enquanto outro era apenas a continuação do corredor. Ao observar melhor, percebo que existiam duas pessoas que ficavam olhando ambos os caminhos, que estavam lacrados por largas barras verticais, que saíam do chão e pareciam atravessar a parte de cima, que estava tomada pela árvore. A postura dessas pessoas era semelhante: ambas estavam com um braço sobre o estômago, que dava suporte ao braço direito, pois cada um deles estavam com a mão no queixo, enquanto questionavam sobre as coisas em voz alta — suspeito que estavam, na verdade, pensando em voz alta. Eles frequentemente repetiam "como será possível passar por essas barras?", "será que é possível quebrar aquelas barras?" e "por que que eu estou aqui?". Enquanto ficavam lá, questionando, continuei meus passos e, quando me dei conta, estava naquela salinha! "Como eu passei por aquelas barras?" minha razão perguntava, enquanto meu coração apenas observava. Naquela sala, encontrei o esqueleto de alguém — talvez esse alguém tenha ficado preso por aquelas barras. Preocupado, me virei para investigar as barras de perto e, para a minha surpresa, noto que elas haviam desaparecido.
          Com pouco espanto e muita curiosidade, fui investigando os objetos que estavam presentes, além daquele horrendo esqueleto que descansava no chão. Então acabei encontrando uma espada, uma linda coroa de ouro (que estava na cabeça daquele esqueleto) e um enorme baú. A espada era grande, porém leve, além de parecer bem afiada. Quando a peguei, fui testar o corte dela com a unha de meu dedo indicador esquerdo — afiada! Ela possuía um guarda-mão com um revestimento dourado, e detalhes ao longo da lâmina a deixavam bastante formosa aos olhos. "Tome cuidado com ela", disse o meu coração, e continuou "ela pode tanto salvar, bem como matar". Enquanto prestava atenção ao coração, curioso que sou, fui abrindo o baú, que não possuía nenhum lacre aparente, e eis que me deparo com uma bainha feita especialmente para aquela espada, além de muitos objetos de ouro. Como não poderia levar tudo comigo, já que não possuía uma mochila, peguei a bainha (e a coloquei em minhas costas, afinal, aquela espada era longa), a coroa que estava naquele esqueleto e um lindo anel de ouro que possuía inúmeras gravuras e pequenas pedras preciosas com as mais variadas cores.
          Saindo daquele lugar, com a espada nua em minhas mãos (me sentia um pouco animado por tê-la encontrado), aqueles dois homens, que questionavam sem parar, começaram a me indagar, com muito espanto, sobre como eu havia passado pelas barras. Falei para eles que apenas andei, que havia esquecido de que aquelas barras estavam ali, explicando também que, depois que entrei, as barras haviam sumido. Quando fui apontar para a entrada do lugar de onde saí, percebi, para meu espanto, que as barras ainda estavam lá, lacrando a passagem de qualquer um que tentasse entrar.
          Fui acusado de mentiroso e desonesto, os homens falavam "você não quer que passemos por lá também, não é?" e "seu mentiroso de merda!". Enquanto me atacavam verbalmente, meu coração começou a gritar comigo "o que você está fazendo aí? Continue! Deixe eles, em nada lhe acrescentarão" e continuou "mas tome cuidado com o da direita, o da blusa verde... ele está armado, e só está esperando o momento certo para me atravessar!". Realmente, meu coração estava certo pois, no momento que me virei, escutei um som rápido de algum metal raspando em uma superfície... "uma adaga!" pensei e, rapidamente, me virei tentando me proteger com a espada que segurava.
          Não sei se foi sorte ou o destino, mas consegui tirar a adaga quando ela já havia começado a entrar na pele em meu peito. O movimento que realize, em questão, foi de tirar o metal com metal, o que causou um corte superficial — porém dolorido — na superfície de meu peito, bem na região do coração. Depois que a adaga foi lançada com a força aplicada na espada, tive a chance de decapitar o atacante. "Matar... pra quê?" meu coração me questionou, já que o pensamento da decapitação havia me passado. Sem pensar muito, acabei apenas dando um chute no rendido e disparando em direção à outra entrada, a qual estava celada pelas barras. O outro homem, que só observava, apenas observou, boquiaberto, enquanto eu atravessava aquelas barras que os delimitavam, então pelo caminho segui.
          Depois de uma considerável distância, voltei ao passo normal e continuei pelo caminho que deveria seguir, contemplando os ramos da árvore que ficavam na parte de cima. No começo, aquela ferida doía... estava machucado, mas não iria morrer. Então vez, andei... e andei, andei e andei mais um pouco. Depois de andar tanto, continuei andando... parecia a eternidade!
          Minha mente estava inquieta com aquilo, enquanto meu coração flutuava por entre meu peito... estava leve, estava feliz.
Enquanto andava, recordava das coisas que passei, daquela moça que ficou, porém me acompanhava, daquelas coisas que aconteceram, porém aconteciam... até então notar algo extremamente lindo: atrás dos ramos e galhos que cobriam a parte de cima, era possível visualizar o céu estrelado e, conforme as flores mudavam, as estrelas mudavam também; era interessante, já que, enquanto estava no carro, não podia ver estrela alguma senão trevas, mas agora, atrás das folhas e flores dessa árvore, podia ver o céu, tão bonito e misterioso, dotado de uma beleza mística! Contemplando a beleza do infinito, vejo que o chão já havia mudado; este estava já não era mais pedra, como outrora, mas sim galhos e ramos.
Andando mais um pouco, percebo que havia subido, já que, olhando também para o chão, identifiquei aquela sala por onde passava, com aqueles mesmos homens, indagando, questionando. Eles pareciam não me ouvir — já que, agora que estava andando em ramos, meu caminhar havia se tornado menos silencioso, por conta de alguns finos galhos que acabava quebrando ao pisar — e pareciam cego, afinal, era possível vê-los de onde eu estava, já que onde eu me encontrava ainda era bem iluminado.
          "Deixe eles, são culpados por estarem lá!" exclamou, novamente, meu coração. Conforme continuava pelo caminho, o corredor parecia cada vez mais fechado, por conta do aumento da presença dos ramos da árvore, que pareciam tomar conta de tudo. Cada vez que passava, mais diferentes e lindas flores eu via, só que agora elas estavam acompanhadas de belos e diversificados frutos. Como a fome já contorcia meu estômago, resolvi colher algumas, foi aí então que percebi o quão resistente eram aqueles ramos, tanto é que eu precisei usar a espada pra poder soltar algumas frutas de alguns galhos. Peguei uma que havia me chamado a atenção dos olhos (e do coração), era uma vermelha, parecida com uma pimenta, mas que tinha gosto de maçã! Tão suave de se mastigar, juro que estava com medo de que fosse realmente pimenta mas, confiando no coração (e na intuição), mordi vigorosamente a fruta.
          Chegou um momento que me encontrei indeciso: encontrava-se em um cruzamento entre alguns corredores! Ah, a indecisão... cada caminho parecia mais belo que o outro! O da minha esquerda era mais largo, possuindo algumas lindas estátuas de alguns cavalos. Já o da esquerda parecia ser mais alto, mais colorido e mais perfumado. Enquanto parava e ponderava por onde seguir, meu coração repetia, a cada batida, a palavra "Vá!", então fui — segui o caminho que já seguia sem medo algum.
          O que direi para você agora, leitor? Algum fim, alguma conclusão? Como saberei te explicar o que ainda não veio, o que ainda não se revelou?
          Então, ainda sem resposta do porquê estou aqui, continuarei andando e relatando, até então conhecer toda essa árvore que me acompanha o caminho. Quem sabe, um dia, não receba a explicação de tudo isso? Esse é o meu crer, essa é a minha esperança.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Tolo que resmunga

Como você quer ser perfeito
se os seus olhos, nos outros,
só buscam o defeito?

Um sete um, nada tão incomum

Era umas nove horas da manhã daquela quinta feira, o dia havia amanhecido um pouco nublado naquela cidade do interior do estado de São Paulo. Lá fora, nas ruas do centro daquela cidade, o vai e vem de trabalhadores era constante — o comércio daquela cidade era forte e consistente. O que havia de interessante naquela cidade? Bom, nada muito especial, nada muito diferente do cotidiano. Em um consultório de odontologia, encontrava-se Renata, a secretária. Se tem algo que ela amava fazer era acessar a internet quando não tinha nada para fazer — como a clínica era de uma dentista só, ela estava sempre conectada.
Como a chefe dela havia saído para tomar um café, Renata resolveu ler algumas notícias na internet, até que uma em questão lhe chamou a atenção. A notícia tratava-se do alto índice de corrupção no Brasil e, como Renata julgava-se uma "cidadã de bem", logo começou a criticar a falta de honestidade que predominava o cenário político do país, comentando em cada notícia que encontrava sobre o país —
 seja a notícia sobre corrupção ou não — como forma de protesto. Passaram-se 10 minutos até que chegou um antigo e fiel cliente.
— Bom dia, Renata! — dizia Bruno com uma voz entusiasmada.
— Bom dia, Bruno. É a consulta das nove e quinze, né? A doutora estará aqui a qualquer momento — respondeu Renata, avisando-o que sua chefe logo estaria ali.
— Obrigado. Em breve, serei doutor também! Hehe — comentou Bruno, sem saber que a dentista não era uma doutora formada, mas sim bacharel em odontologia.
— Mas o senhor não faz física na USP?
— Faço, logo estarei terminando meu doutorado.
Então um suave ar constrangedor surgiu no ambiente, que logo foi quebrado quando Renata resmungou ao ler mais uma notícia sobre corrupção.
— O que aconteceu? — perguntou Bruno.
— Sabe aquele hospital que construíram ano passado perto da praça da independência?
— Aquele perto do centro comercial? Sim, sei qual que é.
— Então, acabei de ler uma notícia dizendo que a construção daquele hospital foi superfaturado em 23 milhões! Olha que absurdo!
— É... o povo tem o que merece.
— A desonestidade tomou conta dos políticos!
— Não só dos políticos, mas de toda a sociedade brasileira. Isso não é exclusivo deles, mas sim de toda a população. Infelizmente, a desonestidade é um mal cultural.
Mal Bruno terminou de falar quando Renata demonstrou-se um pouco ofendida:
— Falando assim, parece que até eu sou desonesta! Eu não faço parte desse povinho não! — disse ela um pouco exaltada.
Nisso, Bruno abriu um pouco os olhos, expressando um pouco de espanto, então respondeu:
— Eu falei da sociedade em si, da cultura do brasileiro, e não especialmente de você.
Emburrada, o semblante de Renata se fecha para Bruno e ela continua lendo as notícias.
Não demorou muito até que a dentista chegasse e atendesse o futuro doutor, então tudo seguiu nos conformes, como a rotina determinava todos os dias, até que, lá pelas três da tarde, Renata decide passar em uma padaria e comprar um salgado para o lanche da tarde, como fazia todos os dias.
— Boa tarde! — disse a atendente daquela padaria.
— Oi, eu vou querer um salgado e um refrigerante — disse Renata com um tom um pouco ríspido.
Tudo seguia rotineiramente, exceto na hora do pagamento: Renata sempre pagava o lanche, ritualmente, com uma nota de 10 reais só que, naquele dia, ela estava só com uma nota de 5 reais no bolso. Na hora de pagar, em vez da atendente lhe voltar 1 real (pois o salgado custava 4 reais), ela voltou 6, como se Renata tivesse pago com uma nota de 10. Renata, por sua vez, logo percebeu o erro da atendente e, em vez de avisá-la do erro, pegou o troco com o lanche e saiu rapidamente do estabelecimento. Lá fora, pensava consigo mesma "haha, troxa, me voltou o troco errado! Eita sorte que tenho, ganhei o dia!".
Triste não é o que ocorreu com a atendente que, por sua vez, saiu com um quebra de caixa de 10 reais, que irá ser descontado de seu salário (ou irá tentar compensar isso nos trocos posteriores). Triste é esta história se encaixar dentro de uma crônica, já que é algo que acontece todos os dias neste nosso amado e tão explorado país. É, o povo merece os representantes que tem.

Oi? Falou comigo?



Quando pequeno
me chamaram de demente
outros, de inteligente
e de outros tipos de veneno

Focar sempre foi complicar
pois é difícil ignorar
a riqueza e imensidão
desse mundo que envolve meu coração

Penso em tudo
penso em nada
em minha mente
o abstrato encontra o real
o físico se torna irreal
qualquer coisa se torna interessante
em um fluxo constante
me padronizar, pra quê?

Olhe, um pássaro!
Acho que ele está montando
um ninho, pois
em seu bico vejo
um galho
e em seu voar
vejo
a alegria do
procriar
talvez tenha
filhotes
uma família!

Enfim, julgado sempre fui
de algo que sempre fui
"Você nunca tentou
não ser assim?
Procure focar
para que isso tenha fim"
suas palavras podem até rimar,
você pode até estar preocupado,
mas você não irá consertar
aquilo que não está quebrado

Ah, olha como
a Lua está linda
e exaltada
no alto dos céus!
Invejo quem a
visitou
será que ela
os recebera bem?
Se
de longe ela
é
tão formosa e receptiva
imagine de perto
será que poderia
tocar nas
estrelas
de lá
de cima?

Enfim, voltando ao que
gostaria de falar
e talvez, só talvez,
tentar finalizar,
não é só porque
eu tenho
TDAH
que vou ser
lento ou burro;
embora tenha sido
rotulado
alvejado
e atacado,
seja por professores,
seja por colegas,
com tais adjetivos
confesso
e deixo expresso
que conheço
e convivo
com gênios
que possuem essa mesma
característica,
seria um transtorno
que iria nos definir?